Esta semana fui assistir o queridinho do momento, o best seller 50 tons de cinza que está em cartaz nos cinemas.
Não tive a oportunidade de ler os livros, mas de certa forma venho acompanhando o movimento provocado por ele desde seu lançamento. E o questionamento foi inevitável: o que este enredo tem que incita tanto as pessoas?
O primeiro contato com Sr. Grey já foi impactante, ocorreu através de um relato de uma amiga que ao ler o livro confessou-me que seu interesse sexual por seu parceiro estava abalado. Investigando um pouco mais a obra constatei que a autora realmente conseguiu recriar o “homem dos sonhos”, gentil, romântico, bonito, rico e interessado em gerar prazer absoluto a sua namorada. É tão utópico, que pude compreender o descontentamento gerado em minha amiga, que tão envolvida com a leitura, se deixou misturar ficção e realidade, imersa na ilusão transmitida no livro.
Além disto, o conto traz à tona a exploração da sexualidade de uma forma diferenciada, e a polêmica prática do sadomasoquismo. Segundo comentários, nos livros tal prática é mais intensa, fato que o filme não recriou, quem tiver a oportunidade de assistir verá que o filme retrata muito mais o erotismo do que o sadomasoquismo em si.
E isso é um ponto a se enfatizar, o romance existente na história acaba confundindo alguns casais, acreditando que aquela forma de se relacionar é tão gostosa como os personagens vivenciam, mas na verdade não é bem assim. Prova disto é a recente campanha londrina “50 tons de vermelho”, em que o corpo de bombeiros alerta para os riscos de se praticar o sadomasoquismo sem o devido conhecimento. Para exemplificar no site da campanha há descrição de um caso de novembro de 2014 no qual os bombeiros tiveram de socorrer um homem que, durante três dias, ficou com dois anéis de metal presos em seu pênis. Inicialmente, ele teria sido levado a um hospital da capital inglesa, mas, depois de os médicos concluírem que a remoção dos anéis era inviável, os bombeiros foram acionados. Para concluir o serviço, usaram um instrumento hidráulico. Parece absurdo? Mas é real...
Então, vamos esclarecer: O que é sadomasoquismo? É a combinação de impulsos sádicos e masoquistas na sexualidade.
Para entenderem melhor, o sadismo é o prazer em causar dor, humilhar, insultar ou submeter outros à sua dependência, e masoquismo é o prazer em sofrer dor. Na prática os praticantes são divididos em mestres e escravos. Os primeiros ocupam o papel ativo, e dedicam-se a explorar a dor e o prazer de seu escravo que, por sua vez, deve proporcionar o máximo de prazer através de sua dor. Ou seja, o mestre é o dominador que comanda e impõe respeito, enquanto o escravo é o submisso que aceita as ordens de forma passiva. Logo, gostar de receber tapinhas durante o ato sexual, por exemplo, não se classifica como sadomasoquismo. Então, se você possui curiosidade em experimentar este estilo de vida, procure aprender sobre ele primeiro, e principalmente tomar os devidos cuidados para não gerar acidentes, há uma técnica e também características pessoais imprescindíveis para a prática ser executada, não é tão simples e gostoso como pode parecer, fica o alerta!
Observação: O sadomasoquismo é considerado uma doença quando a única fonte de prazer é a dor. Incluir práticas sadomasoquistas na relação sexual como uso de algemas, vendas e fantasias não é patológico, desde que ambos estejam de acordo, e seja respeitado os limites saudáveis de uma relação a dois.
Outro ponto muito interessante da história, que motivou-me a escrever este post, é o conflito da personagem Ana de decidir se submeter a este desejo do homem em que esta apaixonada ou não. O filme explora muito esta questão, as cenas nos levam a ficar em dúvida como a personagem, pois quando não estão tendo relações sexuais, passam momentos super românticos e felizes juntos, mas durante o ato sexual, há um misto de medo, dor e prazer contraditórios. E aí encontramos o primeiro ponto que faz da obra um sucesso: a identificação com a personagem Ana. Em muitas situações de nossa vida nos deparamos com estes sentimentos de antítese, e a pergunta “será que vale a pena?” atormenta. Do ponto de vista psicológico a orientação sempre será que nada que fere a si mesmo vale a pena, se sacrificar de um lado, para ser feliz por outro, não é saudável e nunca gerará satisfação plena. Neste contexto se enquadra também nos casos de tentar mudar sua essência para agradar o outro, deixar de fazer coisas que gosta para agradar o outro, entre outros exemplos.
O conflito familiar dos personagens também é um ponto interessante, Ana foi abandonada por seu pai, foi criada por seu padrasto, e sua mãe é tão instável que já está no quarto marido. E Grey é filho de uma prostituta, e foi adotado com 4 anos pela atual família, em que fica subtendido que ele nunca sentiu-se totalmente aceito. Tais históricos vem para justificar de certa maneira as características pessoais de cada personagem. O reflexo deste histórico é a doença de Grey, que o mesmo reconhece, representado no filme pela fala "eu tenho 50 formas de perturbação". E também a baixa auto estima de Ana, que é claramente insegura e descontente consigo mesma. Tais consequências representadas dos personagens, só vem para reforçar como o auto conhecimento psicológico é importante para a aquisição da saúde mental.
Em termos de longa metragem, é um filme muito bem produzido, e a fotografia muito bonita, todas as cenas fazem referência aos tons de cinza, e a modernidade e ostentação presente na história original está retratada. A escolha dos atores também chamou a atenção, é nítida a preocupação que Ana seja uma mulher “normal”, sem características hollywoodianas, e Grey um rapaz perturbadamente sedutor, ele não é lindo de morrer, o que o faz lindo é a intimidação. Entretanto, apesar de saber que muitos não vão concordar comigo, confesso que achei o filme um pouco cansativo e evidente, cenas um pouco repetitivas, e sem muito conteúdo, mas é um filme que vale a pena assistir. A trilha sonora é um caso a parte, maravilhosa. O conteúdo erótico é forte, mas não chega a se classificar na categoria pornô, mas por ter cenas de nudez parcial e sexo parcialmente explicito, não é recomentado para menores de idade.
Por fim, minha conclusão à pergunta inicial “o que este enredo tem que incita tanto as pessoas?” é a união entre sexo, paixão e medo, três pontos carregados de complexidade. Encarados como tabus, mesmo nos dias atuais. De forma geral a história alimenta a fantasia da cura pelo amor, a crença universal que o amor tem o poder mágico de transformar um homem fechado, amargurado e violento em alguém expansivo, aberto e regenerado.
Na verdade, em síntese, a história trás o falso preenchimento das carências de muitas pessoas, nos campos mais subjetivos. Todos de uma forma ou de outra, desejamos viver realidades fictícias, pois a vida real não é tão mágica como nas páginas de um livro. Eis aí o que faz 50 tons de cinza tão prestigiado.
Sem sombra de dúvidas, 50 Tons de Cinza, é um fenômeno recheado de polêmica e adoração, como um verdadeiro best seller deve ser.
E há muitas curiosidades envolvendo a obra, separei 10 bem interessantes para vocês:
1. A autora é super fã de Crepúsculo, e quando escreveu o texto, usou os mesmos nomes dos protagonistas: Bella e Edward . Anastasia Stelle e Christian Grey surgiram muito depois.
2. Ao todo, são 187 palavras que fazem referência à relação sexual. Só a palavra "sexo" aparece 58 vezes. “Foder” ocupa a segunda posição nesse ranking, com 37 aparições. Por fim, temos 20 vezes “fazer amor” e 19 vezes “penetração”. E esses são apenas quatro dos muitos termos do livro.
3. O nível de vergonha da personagem Ana é inacreditável, o livro tem 455 páginas e a Ana fica corada 111 vezes, sem contar as 22 vezes que morde os lábios.
4. O livro está encharcado de marcas publicitárias. Audi, Mercedes, Ipod, Mac e Advil aparecem inúmeras vezes durante o enredo.
5. Algumas livrarias públicas dos Estados Unidos se recusaram a encomendar o livro por considerarem má literatura. No Brasil, em Macaé, no Rio de Janeiro, um juiz assinou uma ordem de serviço que considerava a publicação imprópria e vetava sua exposição sem lacre nas livrarias.
6. Apesar do filme ter classificação etária restrita, o mesmo não acontece com o livro, que já foi lido por inúmeras adolescentes.
7. De acordo com a Veja, o vídeo publicado em julho é o trailer mais visto do ano passado. No canal oficial da Universal Pictures, o número de visualização passa a marca de 52 milhões. Já no canal da Universal Pictures Brasil o número é de 6,5 milhões aproximadamente.
8. A oferta de produtos que envolvem o sadomasoquismo aumentou após o lançamento da obra. O item mais vendido, inspirado em "Cinquenta Tons", é a algema que ilustra a capa do livro.
9. Já existe uma linha de produtos eróticos baseada no livro. E ela se chama “Cinquenta Tons de Prazer”. Tem mais: ela é brasileira. São seis produtos, como géis de massagem corporal e géis comestíveis aromatizados com vinho tinto (bebida frequente no livro).
10. James (autora do livro), fica “mortificada” em pensar em seus filhos lendo seus livros. No entanto, revelou que sua mãe leu a trilogia duas vezes e adorou, assim como sua tia de 82 anos de idade.
Estou curiosa para saber a opinião de vocês também, não deixem de expor suas percepções acerca da trilogia e do filme através dos comentários!
Até a próxima.