A sessão Apaixonadas no Divã convida hoje cada um a repensar suas escolhas. Entender nossos reais sentimentos nem sempre é uma tarefa fácil, e esta incompreensão tem deixado nossa leitora T.M confusa, vejam seu depoimento:
”Oi Jéssica! Acompanho sempre o blog e hoje tomei coragem pra mandar este e-mail. Meu nome é T.M., tenho 19 anos, moro com meu namorado há 8 meses, e atualmente estamos enfrentando alguns problemas, e com essa "onda" de brigas por muitas vezes me pego pensando em outra pessoa. Essa outra pessoa foi uma "paixonite" (posso classificar assim) de 3 anos atrás. Fui passar férias na casa de uma amiga minha, que tem um enteado da minha idade, nisso acabamos nos conhecendo e ficando juntos durante essas férias, e foi algo avassalador. Foi muito intenso e prometemos manter contato e assim foi por mais alguns meses, não nos vimos nessa época, mas mesmo assim nos falávamos todos os dias e eu me sentia feliz assim, até que chegou um dia em que ele me disse que havia encontrado uma pessoa e ficaria com ela, por um minuto vi todo o meu "sonho" acabar, mas me mantive firme, pois ele nunca me prometeu amor, sempre foi franco comigo e eu também havia ficado com outras pessoas. Resolvi diminuir o contato, aliás ele estaria namorando e não me parecia certo. Continuamos a nos falar, porém com pouca frequência, até o dia em que percebi que havia me excluído da rede social. Ficamos sem contato por mais ou menos 6 meses, até o dia em que recebi um e-mail dele, se desculpando e dizendo que havia excluído por conta da ex-namorada, disse que tudo bem mas não mantive o contato pois também já estava namorando. Após um ano mais ou menos, passei a sonhar todas as noites com ele e acabei não resistindo e lhe enviando um e-mail pra saber como estava, e foi aí que percebi que eu me importava e que sentia muita saudade. Hoje, conversamos socialmente por e-mail, mas sinto que ele é uma página que ainda não terminei no meu livro da vida, sinto que falta uma parte e que existe um sentimento. Mas sei que não há como ficarmos juntos, ele namora, eu moro junto com outra pessoa, ele mora em outro Estado e, mesmo assim, meu coração palpita à cada e-mail recebido.
O meu problema é que não consigo entender esses sentimentos dentro de mim, às vezes penso que isso só acontece por conta das brigas com meu atual namorado, mas às vezes acho que exista algum sentimento em nós.”
Este dificuldade em “dar um ponto final” em relações anteriores, por mais despretensiosas que tenham sido, é mais comum do que podemos imaginar. Talvez muitos não tenham a coragem de assumir como fez T.M., mas uma grande maioria em algum momento da vida, já alimentou este tipo de relação fantasiosa.
O que leva a esta confusão sentimental é a somatória de algumas variáveis.
Primeiramente a frustração por não terem se concretizado as expectativas, como no caso de T.M. que fantasiou que ela e o “amor de férias” engatassem um namoro, e viu seu desejo (ou sonho como ela nomeou) desmoronar quando descobriu que isto não aconteceria. É neste momento que erroneamente nosso inconsciente nos faz criar justificativas para diminuir o sofrimento, construindo pensamentos como: “se morássemos mais perto estaríamos namorando” ou “se tivesse me declarado à ele não estaria namorando outra” etc, pensamentos estes que mascaram a realidade.
Outro ponto conflitante que entra nesta soma de variáveis são as necessidades do ego, ou seja, nos sentimos satisfeitos quando somos desejados, elogiados, etc. e por isso tendemos a não romper relações que estimulam este aspecto. Em psicologia falamos em duas forças que conduzem nossas escolhas, o ID (desejo) e o Superego (moral), e a internet ajuda muito a amenizar o conflito entre os dois. Afinal mantemos a relação proibida sem ferir o que é eticamente correto, pois não há contato físico, certo? ERRADO. Como sempre enfatizamos aqui, para termos uma relação saudável a confiança deve sempre prevalecer, e neste caso a omissão ataca este conceito, gerando o desequilíbrio da relação.
E há ainda a pior de todas as variáveis, a idealização. Quando passamos a não ter uma convivência constante, ou apenas uma convivência virtual, acabamos por esquecer a verdadeira face e criamos uma imagem ideal, transformando a pessoa em um “modelo perfeito”, que não condiz com a realidade. E na presença de qualquer conflito imediatamente fazemos a injusta comparação, injusta porque alguém real com todos os seus defeitos e subjetividades nunca irá superar alguém idealizado e sem defeitos. E isto pode ser tão perigoso, ao ponto de nos fazer desgostar de nosso parceiro.
E como lidar com isto? O primeiro passo é esclarecendo estes sentimentos, fazendo uma auto reflexão separando o que é real e o que é fantasiado. Segundo, repensando sua relação atual, pois se há o sentimento de falta, o desejo em outro, é porque algo não esta bem, seja por falta de sentimento, seja por falta de manutenção da relação.
Manter esta situação torna-se insustentável, e o mais breve possível é preciso fazer uma escolha. Seja ela pelo fim da relação atual e a busca deste outro, seja pelo desapego ao passado, e maior investimento em quem está a seu lado hoje, ou apenas o encerramento de ambos e reiniciar sua procura pelo amor verdadeiro. O que não é aceitável é manter esta situação, pois isto só afasta sua felicidade.
É importante ouvirmos nosso coração, desde que estejamos com os ouvidos abertos para o que ele tem a nos dizer, sem distorções.
Reveja sua relação, pense se esta feliz, se vale a pena investir neste relacionamento, independente do que sente por esta outra pessoa. Procure também repensar sobre estes sentimentos depositados neste outro, se há uma troca real, ou apenas um interesse superficial para fazer bem ao ego. Nem sempre é fácil entrarmos em contato com nossos sentimentos, sairmos de nossa zona de conforto, mexermos em algo que já esta cômodo à nós, mas é necessário.
Então, querida T.M., espero que após ler estas considerações possa realizar esta auto avaliação de seus sentimentos e possa fazer sua escolha e acabar de uma vez por todas este conflito emocional.
JÁ VIVENCIOU SITUAÇÃO PARECIDA? COMPARTILHE SUA EXPERIÊNCIA CONOSCO ATRAVÉS DOS COMENTÁRIOS.
Um grande abraço à todos!
(As informações contidas nesta publicação NÃO substituem um atendimento real em setting terapêutico adequado com um profissional psicólogo qualificado.)
***OBS: Quem quiser participar da sessão Apaixonadas no Divã, pode enviar e-mail para blognamorados@gmail.com com este título.***